quarta-feira, 27 de julho de 2011

Primeiro ato


Parei à porta, observei como já estava gasta. Assim como as vidas ali já haviam sido gastas pelo tempo.
Como em um sonho aquela porta se abriu sem que eu tocasse nela, e o cheiro de morangos me invadiu , não entendi o motivo. Por que morangos? Isso não me lembrava nada tão marcante, talvez uma lembrança vaga de alguma canção...
Ao adentrar o quarto tive um vislumbre de alguém ajoelhado junto a parede. Era uma criança, uma menina.
Seus cabelos negros encobriam seu rosto, ela olhava em direção a luz que vinha da janela que iluminava uma caixa que repousava sobre a mesa.
A pequena garota como num impulso, estendeu sua mão em direção à minha. Pude sentir o quão gelados estavam seus dedos tão fininhos, tentei segurá-los firmemente para passar algum calor para a pequena de cabeça baixa.
Nos sentamos ali, na beira da cama, lado a lado. Sua mão direcionou a minha até a caixa, a qual abri com cuidado. Cuidado similar de quem pisa em ovos.
Ainda cautelosa abri a caixa e tudo que vi foi eu mesma, a caixa continha um espelho. Não entendi o significado daquilo.
Quando de repente olhei nos olhos da garotinha percebi que eram meus olhos. Meus olhos desviaram para o grande espelho que havia na parede, e o que eu vi não deveria me assustar da maneira que o fez.
Por um momento eu era a garotinha e a garotinha se transformara no que eu era.
Ela segurou minha mão, provando que ela via o quanto eu me sentia vulnerável mesmo quando a luz que entrava pela janela se refletia em meus olhos. E com um beijo na minha bochecha ela falou:
Não se esqueça de quem você é, nunca.
Talvez eu sempre tivesse consciência de que a única pessoa que poderia mudar o modo que eu olhava para o mundo era eu.

Um comentário:

  1. Muuito perfeito, até arrepiei qando eu li. Assim cmo todos os seus posts, este me surpreendeu. Cada dia melhor amg, Amei *-*

    By: Camila :)

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