terça-feira, 28 de setembro de 2010

A chuva.



Olho atenta a cada pessoa que anda pela rua, de olhos baixos e protegidas por seus guarda-chuvas. Elas estariam pensando em quê? Sua maior preocupação seriam aqueles pingos de chuva? Imagino que não.
Talvez pensem em dinheiro, nos familiares, nos afazeres do dia e até mesmo em amizades estremecidas ou amores perdidos. Não posso afirmar nada, só sei que os pingos continuam a cair como se o fizessem em câmera lenta e o vento continua a soprar como se conseguisse entender a razão da minha dúvida, talvez ele saiba a resposta e apenas não consegue sussurrá-la ao meu ouvido. As crianças andam sorridentes, pois nada consegue tirar-lhes o sorriso ao contrário de suas mães, que correm preocupadas atrás delas aos gritos formando uma cena cômica, mesmo que não fosse essa a intenção.
Ainda há aquelas pessoas que não estão ao alcance dos meus olhos, aquelas que se deliciam sob a chuva, aquelas que dormem ou assistem TV embaixo de muitos cobertores, aquelas que sofrem, as que reclamam, as que querem estar em outro lugar ou as que como eu observam... Observam as outras pessoas, os respingos na janela e as luzes dos relâmpagos atrás das montanhas.
O chão ainda sim está molhado e recebendo o impacto daquelas gotas e as pessoas ainda estão esperando pelo Sol, afinal, não sabem como pode ser bom um dia de chuva.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Brevemente perdidos



Sempre existem aqueles momentos estranhos em que o ar parece ser composto por outras substâncias. Quando parece ser mais respirável, não sei explicar muito bem.

Quando uma música que você já ouviu milhões de vezes de repente é capaz de te fazer chorar,

quando uma coisa que você nunca colocou fé se mostra uma coisa indispensável para você,

quando a serenidade toma conta do seu corpo e te faz sentir mais leve.

São esses momentos de falta de realidade, ou realidade aumentada (não sei dizer ao certo) que te fazem navegar em mares de possibilidades. E são nessas horas que os sonhos se apresentam de uma forma diferente da que estamos acostumados, afinal, eles parecem mais próximos, é como se pudéssemos tocá-los enquanto nossos pés não tocam o chão.
Brevemente perdidos em nós mesmos, flashes de cenas que já passaram, cenas imaginadas para o futuro. Coisas inexplicáveis, só nossas.

Em meio à multidão você se sente um ser extra terrestre vendo beleza em tudo, e principalmente nas pessoas.

Elas sentadas e conversando, elas choram e elas rezam. Tudo é tão repleto de significado, enquanto isso o desprezamos, parte fundamental: o significado. Todo momento é tão precioso, é um dia tão perfeito...

As lágrimas, nesse meio tempo, brotaram algumas vezes e estancaram-se. Elas não são de tristeza mas também são são propriamente de alegria, são apenas lágrimas. Sinceras e silenciosas lágrimas.
"A decisão era deixar o mundo melhor do que ela o havia encontrado." Virginia Woolf

domingo, 5 de setembro de 2010

As folhas.


Nos olhos tristes que fitam a estrada, me reconheço. Nas notas melancólicas me enquadro e ouço o som das folhas secas no chão em que piso que por algum motivo estão ali, esquecidas e ignoradas.

Nos conflitos que as folhas não podem ver ou sentir, eu me apresento, ostentando a bandeira da incerteza. Os pés que não tocam o chão, tudo por causa cabeça que está mais longe do que se possa imaginar.

Os mesmos olhos que carregam o semblante triste, tentam enxergar além da espessa neblina onde, além dela talvez a solidão acabe e o frio passe. Por isso eu rezo, o que haverá atrás do véu do passado e além da neblina que vejo agora? As folhas secas ainda existirão? Ou já estarão no alto das árvores, voltadas unicamente para a luz? Tal luz que não vejo, mas sinto bem profundamente em mim, em você e em todos nós.

Nós sempre queremos mais, as folhas não entendem, apenas seguem sua existência no ciclo de nascer, crescer e morrer. Por que se complicariam, por que iriam querer ser como nós?

Assim como nós: confusos, impacientes, mas também sentimentalistas, amantes e sonhadores.

Talvez sejam, ou não.
Talvez queiram, não sei.
Não cabe a mim saber, mas sim pensar. Eternamente pensar...

Autora: Tahiane C. Libório

“Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali..." (Pablo Neruda)