Quando criança queria escrever.
Queria que minhas palavras iluminassem de alguma forma os
cantos escuros do ser humano. Queria dar esperança.
Quando criança eu não imaginava que não saberia iluminar a
mim mesma, nem fugir dos fantasmas da dúvida, de seus olhares cheios de
sorrisos zombeteiros.
Então percebi que talvez não houvesse gente disposta a ouvir
o que eu gostaria de falar. Afinal, quem nesses tempos está disposto a ouvir?
Quando adulta permiti que calassem minha criança. Eu a calei,
como quem acha que faz o certo mas coleciona equívocos.
Certos momentos me pego gritando por ela, ao escrever cartas
desesperadas endereçadas a mim. Como resposta recebo apenas ecos.
Pelo visto, gritar não é a resposta e sim silenciar até que
ela venha.
Deixo por escrito que hoje me silencio e aguardo por mim
mesma, aqui e a qualquer momento.