domingo, 26 de agosto de 2012

Viva a loucura

Carl Spitzweg:Der eingeschlafene Nachtwächter,1875

Um pé na frente do outro, uma olhada para o lado, e todo um cenário montado na mente com alguns elementos de realidade, mas não se engane, só alguns. Talvez só os passos, ou só a brisa. Tudo o que bastava era fechar os olhos, daquela maneira despreocupada, sem ligar para quem estivesse olhando o sorriso no canto da boca ou os olhos fechados em meio àquele fluxo acelerado de pessoas, ou de corpos, com a humanidade escondida em algum canto em meio a tanta bagunça que são os seres humanos, esses que sempre colocam o relógio acima de si mesmo, de suas necessidades.
Sim, o sentido da vida é o horário. Isso significa que a vida é o que está acontecendo enquanto o relógio está se movendo e nós estamos olhando. Acho que esse é um dos motivos pelo qual não devemos ter medo de sermos chamados de loucos ao nos preocuparmos (ou despreocuparmos) pelo menos por um minuto em sermos nós mesmos, pessoas que sentem, que se comovem por ver alguém deitado embaixo de uma marquise ou pelo menos pensam na criança que está no semáforo fazendo malabarismos. Tudo fica tão mais leve quando não nos preocupamos em ser as marionetes adormecidas, não é mesmo? 
Gosto da sensação de ser leve, sem me preocupar com tudo o que se espera de uma pessoa para que ela seja supostamente feliz, acho que estamos todos correndo na direção contrária, nos distanciando cada vez mais do que nos completa, estamos correndo da infância. Éramos bastante felizes aos 5 anos, e mesmo que não nos lembremos muito bem, sentimos saudades. E se éramos felizes, provavelmente fazíamos alguma coisa da maneira correta. Dávamos mais importância às pessoas, nos preocupávamos mais com o bem estar do outro e costumávamos nos divertir mais. 
É melhor ter a companhia das flores e dos animais, em uma suposta ou relativa solidão do que das pessoas que nos sufocam e nos impelem a acompanhá-las na corrida para a direção contrária, talvez pelo simples fato de não se lembrarem da direção correta. Estão tão perdidas quanto eu, mas com uma diferença: Não fazem questão de se encontrarem. O que é uma pena, mesmo que isso tenha caráter provisório, pois ninguém consegue ficar de olhos fechados por toda a eternidade.
Bonito é quando somos capazes de ter mais um pouco de fé só de olhar as estrelas e sabermos que somos parte delas. E acabamos pensando na maneira como um dia nos separamos delas, para nos tornarmos os seres que as observam silenciosamente alguns bilhões de anos depois. Não abro mão dessa beleza que parece sutil, mas que quando reparamos nela, ela nos toma de tal forma que acreditamos que tudo é possível. Não consigo não achar isso bonito, talvez seja coisa de gente louca pensar nessas coisas, mas se assim for, viva a loucura.

sábado, 18 de agosto de 2012

O labirinto


Fabienne Lin


E mesmo que passem os dias, as noites, os verões e os outonos do lado de fora da janela, e as coisas mudem relativamente, sempre acabamos voltando para os mesmos pontos, pelo menos internamente, sabe do que eu falo?
É quando você acha que é uma nova pessoa, mas depois de um tempo nota que apenas estava enganando a si mesmo e se sente da mesma forma de que você tanto quis fugir. Corri pelos corredores em busca das palavras que me faltavam, não olhei para trás, mas como em um labirinto voltei para o mesmo ponto de onde saí, sem nem mesmo saber se um dia estive ao menos perto da saída, da liberdade. E lá vou eu novamente, passar pelos corredores, quem sabe com um pouco mais de cautela, já que descobri que correr no impulso, só nos faz cansar sem sairmos do lugar, causa uma falsa sensação de “descomodismo”, se é que essa palavra existe, se não, me permito inventá-la. Mas vocês entenderam: falsa sensação de que saiu do lugar, geralmente caracterizada por um momento de entusiasmo, seguido de nenhuma atitude concreta que realmente mude as coisas. Ficamos em um eterno “deixar para amanhã” e nunca concluímos nada do que começamos, isso é cansativo no final das contas: Não fazer nada. O mundo não fica estagnado até o momento em que tomemos a iniciativa de fazer parte dele, e se não o fizermos rápido eles passará por nós e talvez seja tarde demais para alcançá-lo.
Mas aqui deixo um pequeno registro de uma nova tentativa, e lá vamos nós. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Once upon a dream


Engraçado mesmo é a forma como adiamos as coisas, adiamos por não reconhecer que a iniciativa é reconhecida, por preguiça e, principalmente por medo.
A insegurança de dar um passo a frente e deixar para trás todo o espaço conhecido, toda a acomodação e o que estamos acostumados nos deixa estagnados. Não nos damos conta que mudanças tem que ocorrer e não vale à pena esperamos que sejamos obrigados à elas, ou esperarmos recomeçar em datas específicas e dizemos "Vou mudar minha vida no próximo ano", "Vou estudar no próximo semestre", entre outras coisas do gênero que frequentemente saem por nossas bocas. A questão é: Teremos que nos adaptar e fazer um esforço para adequar essas mudanças em nós, e o que adianta esperar o dia 1 de janeiro? Teoricamente o esforço será o mesmo, e adiar só vai fazer com que nos ocupemos com coisas que não nos levarão na direção a qual queremos ir, nesse caso pararemos onde a correnteza nos levar, o que pode a chegar a ser patético. Mas essa é a consequência de desistirmos dos nossos sonhos, pelo simples fato de adiar fazê-lo acontecer.