sábado, 18 de maio de 2013

A caminhada

Naqueles dias as palavras tinham que ser mascaradas.

Dizíamos entre sussurros o quanto queríamos ser ouvidos, assim como os que gritavam.

Alguém disse que seríamos como nossos pais, talvez tenham acertado, pois acabamos nos deixando reprimir.

Sempre nos sentimos na obrigação de estar indo a algum lugar. Porque não podemos simplesmente caminhar?

Sem aquela sensação latejante de estar sendo observado e precisar corresponder a todas aquelas expectativas.

Porque temos que nos forçar a uma única direção? E porque temos que brincar de prever o futuro?

O pior é que se cogitamos ir para qualquer outro lado, a sociedade nos afoga em meio a milhares de dedos indicadores apontando para onde ir: o local sem surpresas, o lugar da rotina, o reino do dinheiro. Sempre uma direção pré-determinada.

É o que fizeram aos nossos pais, e farão com nossos filhos.

O que é proibido é assumir que não sabemos para onde ir, é feio e representa fraqueza, é o que nos dizem.

Sabe quem disse?

Aqueles que foram fracos a ponto de nem pensar sobre o caminho que foi imposto goela abaixo.

Mas quem somos nós para julgar, não é mesmo?

Quantas vezes não estivemos na mesma situação e apontamos o dedo, agindo da mesma forma: de olhos fechados e mente retraída.

Não nos damos conta que vamos todos encontrar a mesma coisa no fim da estrada: a morte.

A diferença é a caminhada, sempre a caminhada.